Procura-se um candidato
Após a decisão judicial que obriga Jerônimo Rodrigues a aparecer em sua própria propaganda na TV, a expectativa é que agora, enfim, o petista deixe o anonimato e participe de seus programas eleitorais. A coligação 'Pra Mudar na Bahia' entrou com uma representação e o TRE concedeu uma liminar para determinar que o candidato do PT apareça mais no seu tempo, já que a grande parte dos 3 minutos e 39 segundos é ocupada por apoiadores. Em um dos programas, ele fala por apenas 12 segundos e, noutro, participa em 24 segundos. Em algumas inserções em rádio e TV, o ex-secretário da Educação sequer fala. Uma coisa é fato: a insegurança é tanta que Jerônimo parece se esquivar dos programas e inserções. Precisou, então, a coligação adversária ir à Justiça para que o candidato petista cumpra a lei e bote a cara na telinha.
O que diz a lei
A legislação eleitoral prevê que os apoiadores devem ocupar no máximo 25% do tempo da propaganda eleitoral dos candidatos. O restante deve ser obrigatoriamente de aparições do postulante ou de ações relacionadas a ele. Com Jerônimo, tem sido o oposto, o que rendeu alfinetadas de adversários. O deputado federal Paulo Azi (União Brasil) não perdeu a oportunidade e ironizou: “Precisou a Justiça Eleitoral obrigar ele a aparecer, porque no programa só quem participa são os apoiadores. Está se escorando nos padrinhos”.
Estratégia avestruz
Por trás do “sumiço” de Jerônimo do seu próprio programa eleitoral está o fato de o candidato petista não decolar. Tanto é que a propaganda passa a impressão de não ser dele e, para observadores da política, parece fazer oposição ao próprio governo, falando dos problemas do Brasil, mas sem tocar nas questões fundamentais do estado.
Saco cheio
Fontes com trânsito no Palácio de Ondina revelaram que dois fatores principais foram responsáveis pela retirada de Geraldo Júnior (MDB) das agendas de interior de Jerônimo: o mau humor do governador Rui Costa e a inconveniência do candidato a vice. Relatam que a postura expansiva de Geraldo começou a causar incômodo em Rui, e o desconforto foi potencializado com a maior participação do governador na campanha. Além do excesso de brincadeiras, o emedebista passou a fazer discursos cada vez mais longos, tirando a paciência de Rui. O estopim foi num evento em que Geraldo dançou, com seus passinhos peculiares, na frente do governador. Foi o fim da picada.
Alívio
Mas a saída do postulante a vice da campanha no interior não provocou desconforto na base. Ao contrário, deputados e candidatos têm relatado alívio com a saída de Geraldo dos eventos. Para eles, o emedebista quer apenas eleger o filho e, “sem nenhum pudor”, estava invadindo bases de parlamentares petistas, o que gerou diversas queixas, que foram levadas a Rui. A situação é agravada pela observação de aliados de que, com sua saída do interior, Geraldo jogou a toalha de vez da disputa pelo governo e passou a se dedicar integralmente à eleição do filho, tarefa considerada complicada por caciques governistas.
O contraste dos vices
Enquanto Geraldo é escanteado na campanha petista, a candidata a vice na chapa de ACM Neto, Ana Coelho, tem participado ativamente da campanha. Num evento de Neto no interior em que a chapa se dividiu e ela participou de outra agenda, a ausência dela foi sentida e as pessoas pediam a presença da vice, que tem ocupado cada vez mais uma posição de destaque.
Território perdido
A cúpula do PT baiano já jogou a toalha para qualquer possibilidade de crescimento do candidato a governador Jerônimo Rodrigues nas regiões Oeste e Extremo Sul da Bahia. Com a consolidação do favoritismo de ACM Neto e a falta de progresso do ex-secretário da Educação nas duas localidades, caciques do partido admitem que a situação dificilmente será revertida e, com isso, não devem mais priorizar atos de campanha nas regiões. Nas pesquisas internas, o desempenho de Jerônimo em ambas as localidades é abaixo da média - que, diga-se de passagem, já é baixa. No Extremo Sul, garantem integrantes da base, é ainda pior.
TCE na cola
O TCE colocou o time em campo para auditar os convênios assinados pelo governo do estado e pode colocar luz sobre um show de horrores que a bancada de oposição na Assembleia já havia denunciado. A série de assinaturas teve claramente o viés eleitoral, mas mesmo assim não conseguiu segurar o tanto de prefeitos que se esperava. O que o governo conseguiu mesmo foi chamar a atenção dos auditores pela discrepância entre valores aplicados em 2021 e o primeiro semestre de 2022. Em todo o ano passado, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) executou obras cujos investimentos somam R$ 655 milhões, mas o montante subiu para R$ 1,3 bilhão apenas entre janeiro e julho deste ano.
A ordem dos tratores altera o viaduto
Quem quiser saber como o governo do estado está executando o orçamento público que puxe uma cadeira, sente e aguarde com paciência. Explica-se: é que muitos atos, contratos e convênios só aparecem no Diário Oficial depois de dias, semanas e até meses depois de terem sido firmados. Ou seja, a publicidade do que o governo faz ou pretende fazer só ocorre depois que a iniciativa já foi feita. É o caso de débitos da Bahiatursa que somam mais de R$ 1 milhão referentes a projetos realizados em abril e junho, segundo constam na edição do Diário desta terça (30).
O homem evaporou
Observadores da política baiana avaliam que a candidatura de João Roma (PL) ao governo está se diluindo. Na propaganda eleitoral de rádio e TV, o ex-ministro tem apenas três inserções por dia em meio às 140 que são veiculadas diariamente nos meios de comunicação. Junte-se a isso o fato de o deputado bolsonarista não ter nenhuma sustentação política, o que faz com que os eventos dele contem sempre com uma "moquequinha", a maioria formada por pessoas da própria campanha.
Barco à deriva
Para completar o cenário, até mesmo o bolsonarismo raiz que o apoiava já começa a desistir de Roma, fato que é observado pelo desempenho dele em pesquisas quantitativas e qualitativas. Mesmo com um leve crescimento do presidente Jair Bolsonaro no estado, o ex-ministro não acompanha e, pelo contrário, tem registrado queda. A candidatura de Roma está, de fato, evaporando.
Quem te viu, quem te vê
Causou estranheza entre deputados da oposição a postura do presidente da Assembleia Legislativa, Adolfo Menezes (PSD), que gravou uma inserção na propaganda eleitoral com críticas a ACM Neto. A participação de Adolfo foi seguida por deputados do PT, que mantiveram a linha crítica. Contudo, parlamentares oposicionistas lembram que, quando precisou de apoio para se eleger presidente do Legislativo, o pessedista contou com o apoio de toda a bancada.
Foto: Divulgação.
Coluna Alô Alô Política
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